terça-feira, 28 de dezembro de 2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Medrar

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Botão

Cor de saudade

Não sei se há, nem sei se já houve, ou se já se ouve, mas quis desenhar a saudade.

Ela teve a tendência de acompanhar o tempo que, furta cor, tudo pode tomar.

Tomar o céu azul ou o ocaso; tomar o cinza de uma manhã de domingo; talvez tomar o brio fogo da paixão.

Só sei que me animou o marrom; decalcar e pintar a saudade de marrom.

Cor do chão, cor da terra, cor do cedro, cor de chocolate, cor da pele.

A saudade, entretanto, também poderia ser branca, alva, alma, ao invés de carne.

Poderia ser o choro de uma partida seca; branca por remeter a todas as cores da memória, juntas.

Mas ainda prefiro o marrom. Mesmo que voltado para o negro, o marrom dos olhos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O homem do violão

Não só o som, mas a visão também era ambiente; espécie de celeiro, que aconchegava qualquer tormento.
Quando dei por mim, era ele.
Seu tom acompanhava o som e suas palavras iam, com o vento.
Ele se embaralhou em si mesmo, com as cordas.
Eu me mantive atenta.
Preferi não inibir aquele homem quase santo, de tão são naquele tanto.
Quis gritar; esmorecer o silêncio que se expandia em mim; transparecer minha satisfação, que caía aos prantos, que alagava meu olhar.
Eu quase sorri.
No entanto, percebi.
A tal melodia não me encantava os ouvidos.
Resguardei àquela imagem foram os meus segredos.
Emprestei memória ao possível, como dizer por aí...
Eternizei aquela noite numa caixinha de tesouros.
O homem do violão inda é um sujeito de poucos estios, mas demanda muitas palavras minhas para que eu fique apenas em uma pequena história.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Em movimento

Depois de tanto
Depois desse tormento
Das tomadas de ar
Depois daquele vento
Senti seu amor
Espécie de torpor
Sempre em movimento

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Verdejar

Verdejar esse campo é fácil.
Difícil é altear o cálice dos teus olhos em meio a tanta sensatez.
Tamanho mar de conforto...
Onde a esperança remansa.
Prato farto que alimenta e engole meu passo.
Em pratos limpos uma imensidão de força.
Florescência em raridade.
Cheiro de mato novo e gosto de vento.
E um daqueles sereno, que nos leva pela mão e gira...
Bem no intento de verdejar um universo.
Que antes era pintado e polido pela desilusão.
E uma daquelas boa, que nos leva pela mão e...
Poda qualquer manto de verde que possa florir.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Ele de novo

É assim que ele anda
Na verdade ele corre pelas pistas
Dissimula olhares
Descobre vales

Vezes ele é manco
Vezes parece centopéia
Mas habita os mais belos ventos

Ele pode ser vento
Pode cambalear sentidos
Dar cambalhotas de felicidade

Iupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Tem horas

Tem horas que o peso dos segundos faz estrago
Horas em que o estrondo ensurdece
Momentos em que autossuficiência vira impotência

Tem horas que o sono desperta assustado
Que o relógio do tempo parece que para
Mas deixa a mente a mais de 1000 por hora

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Chances

Que insólitas noites essas de se encarar uma alusão suprema...
Mas se nada havia naquela esteira de vento, não há mais nada que possa ser salvo.

Então, fica-se, portanto, no (de)correr do riacho.
Estremece, por fim, esse peito estreito e assobia-lo.

Pois quem em estância menor poderia engolir-te sem soprar-te?
Quem poderia em vã melodia perjurar uma bossa no ode a esse amor?

Tarde demais...
Tarde cinzenta transformada em milímetro.
Face lisonja mergulhada em destino.
Colcha de alma que se faz em retalho.

Essas são as chances de palavra tomar lugar de rei;
e de invenção ser ostentada por jardim.

São essas as chances de poesia ser sistema,
ao invés de ser comida.

Chances de música não regar paixão...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Tripé

Esse tripé em que me escoro
Esse tripé que me nutre
Esse tripé
Trio de fé
É o meu fiel tripé

Não há o que me faça esquecer
Ou que me faça temer
Por derrubar esse tripé
Esse tripé que me faz ser
Esse tripé que me é

Um tripé apoiado no infinito
Uma eternidade de amizade
Em que me deleito
E em que me deito
Até ficar de pé

Pois roubando palavras de fé
Nossa amizade fala por si
Sendo um tripé de mãos dadas
E de corações de doce aloé

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

sábado, 20 de novembro de 2010

O Amor

Ele não morre
Ele só vive
E inda vive só

Não precisa de ser
Ele apenas é

Atravessa a rua sem dar a mão
Ele é a mão
E o corpo da vida

Ninguém vive sem ele
Só se quiser ser só

Mas só ele sabe ser só
Só ele sabe viver
Sem precisar de um outro amor

sábado, 13 de novembro de 2010

Gravidade

A gravidade não me deixa
E não me deixa mentir:
Sua sombra me abandonara.

Já nem sinto mais falta do seu frio;
Um ar seco
Com beijo de vento.

Mas a gravidade está lá,
Essa sua gravidade
Que a luz me dá.

Uma gravidez de amor
Que não se aborta a esmo,
Só com gravidade mesmo.

Nessas coisas a gravidade
Me derruba o senso,
Grave e sem idade.

E depois dos anos
A gravidade que me convém
Inda me convence que não vem.

Se aqui há uma lei a mais
É a que ao azul rei sempre me traz;
Um céu sem sombra de gravidade,
Muito menos relatividade!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Eloquentemente

Sem repercussão
Produzi o interdito
Devorei o insosso
Feri o inócuo
Fatiguei o inerte
Retomei o insólito
Visitei o inóspito
Respondi,
inaudivelmente,
a mim mesma
E fiquei,
eloquentemente,
sem retórica

domingo, 7 de novembro de 2010

Contemplação

Melindrosa seria
Essa entrega faminta
Que rapta dos bosques
O frescor quente
Do orvalho da manhã
Se não houvesse pássaro

Seria divina
Claro incenso
No queimor sem siso
Insólito
De galhos secos
A alimentar lareiras vãs

Entendo que o clarear
Já faz história
Pois as estrelas que somem
Da aurora celeste
Dão céu
Só pra o sol nascer

Uma infame histeria
De conversar
Com o vento
Sob gritos de grilos
Sob sons de dons
Dominicais

É a noite
Que inda se sustenta
Que rasteja o marinho
Mas despeja
Sozinho
O alaranjar ao mar

Força fustigante
A solitar misérias
Vibrantes
Desde o azul
Ao triste blues
Do meu contemplar

sábado, 30 de outubro de 2010

Desabafo de Vento

Talvez o que já tivesse vivido me fosse o vento,
Pois o que eu sei é que sou trovão.
Aprendi que gosto de lições.
Aprendi que gosto de aprender ensinando;
Que eu choro melhor sorrindo.
E me senti no céu hoje.
Talvez eu fosse o vento mesmo.
Fui o vento do amor.
Passei aos montes,
Por entre as fontes,
E esmoreci.
Descobri que o furacão
Da paixão
Só me vem sem pensar;
Que não existe isso de imunidade,
Nem na minha idade.
Aprendi que o escondido
Pode ser o mais vencido;
E que eu gosto mais de perder
Vencendo o vento.

sábado, 23 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Palavrear

Cisco de palavra me veio aos olhos
Me faz chorar

Palavra me veio goela adentro
Tossi mas tive que engoli-la

Ao embrulhar-se no estômago
Palavra me foi vomitada

E o pedaço da palavra ida
Antes comida, se fez vestígio

Migalha de um conjunto insólito
Migalha aflita de um palavrear ilógico
Feito uma língua sedenta por fala

domingo, 17 de outubro de 2010

Ocaso

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Artizar

Não quero viver de arte
Quero que ela me viva
Acobertar o fole da manhã
Silabar os versos das imagens
Quebrar o gelo que derrete a insensatez

Preciso de músculos firmes nos olhos
Deixá-los bem abertos para a luz do infinito
Enterrar na escuridão das coisas
Tudo que for coisa sem ser

Presenciar a criação pela inexatidão
Debulhar ladrilhos
Verbalizar cores e o mar

Me expor milhares
Ao invés de em migalhas
Pois da chuva que se sobra
Caem os rios sob cachoeiras
Que nos quedam o senso

Pois da noite que se artiza
Borbulha o sol
Que ensina a arte dos nossos dias

Folha-coração

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

domingo, 3 de outubro de 2010

Libélula

Violeta

Vantagem

A vantagem do tempo é rendê-lo
Tirar dos segundos o que se capta pelo olhar
E eternizá-los

É escrever no córrego dos dias
Que margens te estreitam
E que pedras te desviam

É multiplicar tarefas
E sentir-se inundado
Ao invés de cansado

É sequestrar libélulas do jardim
E ao anoitecer
Pedir pra esse mesmo tempo parar de render

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Palavras

Precisei de palavras para me sentir aqui
Precisei delas com muita precisão
Entendi que elas me dizem
Me fazem o que eu penso
Me afogam papéis adentro
E afagam meu dito silêncio

Precisei de palavras para me sentir aqui
E de tanta precisão
Acabei imprecisa
Sem saber nada mais
Muito menos o que se faz
Quando surge rima
Ou quando uma palavra nos lastima

Vôo

Levanta esse vôo distante
Me ensina seu tom
Repete
Ensina
Remeda minha rima
Disfarça o medo
Despressuriza
Me usa e o imperativo utiliza
Abusa
Acusa meu erro
Perdoa e destoa o ritmo
Ecoa
Equaliza
Me inventa sua música
E escreve no ar o que lhe aterriza

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Unicidade


 

Essa foto-poesia não bastou meus sentimentos. Precisei do versal para me ver entendida. Quis através da unicidade transmitida por essa imagem transformá-la em junção. Quis fazer nítida a ideia da sutileza, pelo destaque da cor entre os mares secos do seu todo e a amplidão do azul que a comporta. Sim. Unicidade, sutileza, cor, secura, anil... Só se vê, então, a sombra da união nessa foto-poesia: união de dois em cor-de-rosa, pintada, logicamente, de amor!

Perfil

domingo, 19 de setembro de 2010

Lindeza

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Mel

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Arco-íris

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sol

Foto-poesia

A poesia é um senso; uma espécie de habilidade para enxergar beleza, mesmo tosca, que sempre nos acrescenta sabedoria à medida que vamos nos apurando, nos enriquecendo de experiências.
Nesse feriado estive em contato com uma imensidão de lindezas. Uma vastidão de flora e uma natureza tão rica de amor que só vendo para apreciar de verdade! E foi através de foto-grafias que pude encontrar a poesia do imagético. Provei também do horto de palavras existente em cada pétala de flor, em cada raio de sol, em cada cor percebida e focada. Saboreei a fertilidade e o prazer de todos os caminhos pelos quais andei. Me senti estática, meio extasiada e meio impotente, mas ao mesmo tempo a mais perfeita atriz dos roteiros e rotas que me cercavam e ainda o fazem. Capturei aos diversos sons de vento tudo que depois me pudesse fugir aos olhos, e não às asas do pensamento. Retrato aqui, portanto, durante as próximas postagens, a minha impressão das palavras escondidas nos diversos hortos do universo; retrato o meu gosto pela vida e meus sentimentos mais puros através de foto-poesias.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Caminhando

Corro atrás do tempo que se adianta
Corro atrás do mês que se acaba
Avanço em tuas horas
E faço voltar momentos como anciã

Carrego riso nos primeiros suspiros
Assim como nos segundos

Refaço transas ao relento
Lembro de andar pelos campos
Acampar encantos pelos quartos
E trocar as músicas já tocadas

Piso firme em coloridas areias de cristal
Sem cristalizar pensamentos nem imagens

Vou caminhando para fazer brotar o futuro
Vou caminhando para acreditar no amor
Construo castelos de tanto pairar-te
E me entrego a inércia do querer

Ponho as aventuras todas na mochila da memória
E então invento infortúnios pra parar de sonhar
E ficar pra sempre no meio do caminho
Pra sempre em tuas horas
Sempre andantes

Memória olfativa

Cheiro de manga
- verde
Aroma de goiaba
Melancia com limão
Erva
Verão
Doce mangaba

Que cheiro bom
- de mar
Cheiro de conforto
Cheiro de chamego
- de menino
De conversa
- de artista
De memória
Sem sossego

Seu cheiro imprudente
Sua dança diferente
Com olhar reluzente
E esse abraço diligente
Com um cheiro bom
- de indecente
(Que frisson!)
Me cheirou
A um bom poente

Sob o manto de nuvem
Os raios de sol se fizeram
Esperança
E na dissipação dos anseios
Na claridade da coroa
No sorriso do casal ao lado
Eu me vi distante
Longe daquele perigo inconstante
Fora daquela cidade
Cheia de saudade
Das quatro estações
Num dia só
De todas aquelas ilusões
Que me dão na garganta
Um nó

Cantiga sertaneja engarrafada

Se essa rua fosse minha...
Asfalto ia virar mar!

Espera

A noite se manda
A míngua
Quando o choro sem banda
E o canto sem língua
Se desesperam

Sem inventar
Nem simular
Nenhuma espera
O sol se espanta
Sem vela
E os fios dos seus raios
Em imensa aquarela
Se partem

Assim como uma quimera
Assim como o segundo
Que atravessa o primeiro talvez
Assim como a escuridão
Que se manda afora
E me manda embora

Foi como espera num xadrez
A titica
Desse pede que fica
Com esse diz que fez

sábado, 28 de agosto de 2010

Abrir de portas

Nesse entra e sai
O abre e fecha dos dias fica terno
Te faço eterno no enquanto
E te seguro como água
Ao escorrer nosso tempo

Tenho medo da chuva
Medo que a uva não adoce
Como seus beijos
Que me banham
Que se espalham em mim
Raleando a saudade

É como se não coubesse riso
Em mais nada de mim
Fico distante do fim
Esquecendo de lembrar
De não abrir o coração

Nesse entra e sai
O abre e fecha dos dias fica terno
Já te faço eterno
E escancaro a porta do enquanto
Sem ter pressa de passar

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Não correspondida

Intrusa queria
Deixar de ser
E com você
Me permitir viver
Me sentir mandante
De toda alegria
Sem ser bandida
Nem rendida
Ou sem ninguém
Se intrometer
Nessa fantasia
Já que mesmo
Sem medida
Sendo a fera
Ou a ferida
Com emoção
Me faço despida
Completamente
Aturdida
Por um amor
Que ao me enternecer
A razão me roubou
Minha vida dominou
E pra sempre
Vai jazer
Sem fiança
Ou redenção
Nessa cela de prazer
Ilusão escondida
Numa prisão a sofrer:

Minha eterna paixão
Não correspondida

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Poemas velhos

Meus poemas são velhos
E não tem idade
Estão presos em todo tempo
Se movem a qualquer velocidade

Eles simbolizam
Meu grito intenso
Meu faro
Meu curso
Meu senso

Dedilham o amor
Simples e belo perpetuar
Calculam o prejuízo
E o imenso depósito
A que me permito efetivar

Meus poemas são velhos
Não fazem história
Apenas se adaptam às estações
Se fixando na mesma memória

Eles intentam
Sonhos novos
Sonhos puros
Inconstantes diretrizes
E incessantes deslizes

Meus poemas velhos
Bem sobrevivem
Alagados
E apesar de tanto chorar
Hoje ficam
Eternizados
Nesse meu terno
Terreno seco
De (a)mar

Frestas

Me certifico
Sempre
Das ruas
Que tenho
Em mente
E dos caminhos
Inteiros
Que me fazem
Seguir em frente

Organizo
As idéias
Fúnebres
Que como
Cascalhos vivos
Se disseminam
Pelas vias
E me arruínam
Com secas ironias

E as quinas
Com seus risos
Agrestes
Debulham-me
Fatídicas
Sem afeto
E só criam frestas
Em meu peito
Úmido e quieto

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

À gosto

O mês se deparou comigo
E quase nem disse “oi”

Quis me pedir um certo tempo
Mas o tempo errado me fez que foi

Então resolvi pôr no agosto
Aquele título tão bem posto

Daí, senti que a primavera
Ao meu bom gosto
Já me espera

sábado, 21 de agosto de 2010

Feitiço

Ah, esse tanto...
Esse tanto se transfere por tão pouco!
Essa intensa e imensa noite...
Essa boa prensa, porquanto
Torna nosso imprensa imprensa louco!

É um mar de enguiço...
Já virou vício!
Esse tanto de viço
Desacorrenta meu rebuliço
Induz o maço e o maciço!

Ah, esse tanto...
Esse tonto manto de fervor!
Luz que preenche o encanto
Desse santo feitiço
Em indício... De amor!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Homem

Me deparo sempre comigo
Cansado de reflexos
Desconexo
Do revés
E do complexo

Assim, abaúlo o umbigo
E, ao dedilhar os plexos
Me vejo perplexo
Através
Do sexo

Sem sal

Odeio te amar
Tanto assim
E de tão boboca
Fico insossa
Sem erva fina
Ou grossa
Na fossa
Sem saber
O que fazer
Se devo temperar
Meus dias
Ou esperar
O tempo
Que não chega
Que não salga
Nem adoça
Meu caminho
De palhoça
Essa joça
De viver
Desgosto
Sem gosto
Que é te amar
Sem ter você

Viver sem escrever

Certa feita
Me deparei
[estreita]
Com um abraço do destino

Foi uma espécie de despedida
Um adeus temporário

A brisa subiu
E escutei o sussurro
[saudoso]
Nocauteando como murro

Foi a entrega maldita
Dos meus segundos
[em escrita]
Pelo meu futuro

Aquele abraço foi um roubo
Me tirou a inspiração
[deixou sem chão]
Rareou o ar

Depois de um tempo descobri
Que o fel da vida
Só sara a ferida
E inda nos faz florir

Hoje
Sem aresta
[no que me resta]
Sou fugaz

Produzo pouco
Não inspiro para escrever
Mas para viver
[mais]

Sua alma

Sua alma
Esse jardim
Contém um pouco
De mim
Perfume de jasmim
Que eu sinto assim

Como se
Esse suor
Doce licor
Que escorre
Refrescasse
Meu sedento calor

É como se
Esse corpo
Lindo jono
Que revolve
Pesasse
Leve como o meu sono

É como se
Esses olhos
De sorvedouro
Que brilham
Fitassem
A voragem do meu tesouro

É como se
Esse sorriso
Larga eufonia
Que ressoa
Alimentasse
A paz da minha melodia

É como se
Essa alma
Livre desatino
Que viaja
Visitasse
Meu próprio destino

É como se facilmente
Tudo me viesse
Ou simplesmente
Como se em minha alma
Um pouco de você
Contivesse

domingo, 15 de agosto de 2010

Conversa

Conversa traz conversa
Que me faz confessa
Que atrai com pressa
Toda essa calúnia inversa
Opinião diversa
Sobre a vida
Que nos versa
E sobre o conto
Que me dispersa

Sinto o linho
Que me tece reversa
A noite chegando depressa
E acordo no palco
De uma peça
Confusão adversa
Que me expressa
Como uma conversa
Uma tola conversa
Que sempre continua
E me insinua
À beça

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Alma Pinga

De dia
Imagino
Alegria
De noite
Rezo
Pro açoite
E pinga
Na língua
O gosto
A míngua
De saudade
Longínqua
Dona
Da vontade
Que mora
Cá dentro
Mina líquida
De choro
Besouro
Zumbido
Em coro
Amor
De ouro

Depois
Converso
Sério
Arrepio
A espinha
Foco
Inerte
O plano
Distante
O avião
Vibrante
Que arrancaria
Aquele
Primeiro
Semblante
(alegria)
Então
Suspiro
Em giro
Tranco
O quarto
E piro

Esqueço
O fato
Lembro
Do instante
Da viagem
Adiada
Da palavra
Falida
Da ida
Mal vinda
Fonte
Malvada
Que lava
A bica
Cada canto
De coração
E conto
Cada estrada
Calçada
E não
Andada

Água
(não benta)
Que arrebenta
Minha
Rotina
Arrebata
Meu sono
Aterroriza
Minha sina
Enterra
A esperança
Viva
O espírito
Desse encontro
Difícil
Brilho
Intangível
Em região
Intransponível
Transparente
Nível
Imensidão
De mar
Invisível

Encanta
O cheiro
Bafo
Beijo
E molha
A boca
O sexo
O ser
Pouca
Hora já ida
Apenas
Relida
Em cantiga
Com papo
De reggae
E lágrima caída
Que rola
Solta
Na pele
Envolta
De você
E abriga
Tenente
A partida
Em noite
Ou dia
Com ferida
Inteira
E gota
De alma
Fluida
Mas rota
Com sangue
A pingar

Estar escrito

Quando a tristeza se abriu
me entristeci

Quando o sorriso me entendeu
eu lhe sorri

Quando o entendimento me calou
nos entendi

Quando o silêncio me flechou
o consenti

Quando o tempo se fechou
apenas percebi

Que enquanto a vida me falar
pode traçar o que escrevi

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Amores

Houve amores. E uns sei que sempre terei.
Houve amores desérticos; calados e funestos. Montando daquelas paisagens ásperas e bem calorosas, vertiginosas.
Houve amores deitados. Preguiçosos, que só se levantavam debaixo de muito grito; pois nem o sol acordava seus sensos.
Houve amores padrão; bem clichês e nítidos. Encharcados do oportunismo que nos invade a cada bela tarde chuvosa.
Houve amores cruéis. Amores bandidos e ladrões, assim como eu, a roubar palavras. Que me levaram preciosos bens, mas que, como manda o dito, nunca puderam me levar a sabedoria da alma.
Sim, houve amores proibidos; lançados pela mão de um caçador mor, e não do Cupido. E esses quase foram os melhores, se seus mistérios não fossem tão efêmeros, e se a verdade um dia não remediasse tão divinamente o antídoto das suas flechadas.
Houve amores açucarados. Que me deixavam doente, tonta, cega. Esses me davam sempre sede; mais sede de amor, sede de seus males e de mares salgados antes nunca navegados.
Houve amores esquecidos; aqueles que eu mais devoto. Que, como já disse, se deslembra das cobranças e só se faz de boas lembranças. Muito talvez meus preferidos, se, portanto, não estivessem mesmo esquecidos.
Houve sempre amores derradeiros, que por assim ficar, vezes voltavam a me rogar um bom emprego. Mas quais seriam então os primeiros? Nunca isso deixei importar. Dependendo da safra e da demanda, os buscava inteiros, porém amadurecidos. Desenvolvia as arestas mais brutas e os sentava no carvalho. E só eu mesma sabia o motivo e como melhor despejá-los em suas garrafas. Pior! A adega, o local, a temperatura de abrigo... Que perigo! Não houve época que os fermentasse sem meu próprio tempo e paladar exaustivo que os queixasse como eternos persistentes. Evaporaram-se de torpores todos, os tais amores.
Fora esses e outros tantos tontos, que se chamaram ou não e que também não necessariamente foram amor, há um tipo que nunca consegui conhecer. Toda vez que pensava ser apresentada ou inclusive a ele apresentar-me, me ocorria o engano. E pra acontecer talvez ainda leve ano... Ou talvez nem tanto!
Só sei que inda não sei se vai haver esse próximo; o desconhecido. Já me embalei em tantos cantos que cansei de encantamentos. Horas penso ser bom, por criar cada vez mais afeto por mim mesma; por me questionar barulhos que, com um amor, não fosse capaz de escutar. Mas depois de um vento acalentado de paz... Já nem sei mais! Penso que descobrir um amor, seja ele achado, seja roubado, seja insípido, repetido ou inventado, é sempre entreter-se. E é isso o que mais amo!
Amo a trama da noite com o amanhecer. Esse caso que se constrói com poucas estrelas e muita imensidão. Essa partida que se tem com a chegada ou com a ida de quem se quer. Amo a briga do homem com a mulher! O infinito que se encaixa no vazio. Ser sempre ambíguo, complementar, antônimo, mas sempre dois a juntar, ou melhor, apenas um já untado pelo amor e seu bem amado.
Amo o fato e o estado que me faz esfacelar, dividir e multiplicar amores; apesar de, em certos momentos, tentar alcançá-los pra re(vi)vê-los, e não sê-los; como o lume do fogo num vendaval arruinado, prestes a se fazer cansante e não mais ardente; apenas apagado.
Amo ter havido amores, apesar de igualmente (há)vê-los. Isso porque entendo o valor de um amor; e o de cada um deles. Só me pergunto, por fim, até que ponto os serei, se o que não encontro em mim posso ter neles? E até que outro ponto seguirei, se a minha sede de haver envolve sempre o mais para entreter-me e a virtude eterna de nunca me bastar?
Prefiro olvidar, me calar e bem fal(h)ar em novos ou velhos amores...

A perder de vista

A perder de vista
Sou artista
Rolo na pista
E reitero
Sou ativista
Defendendo
Sem peias
Meu eu severo
Ríspido
E idealista

A perder de vista
Sou o encontro
Do feio
Com o belo
O bom duelo
Do príncipe
Com o vagabundo
O dueto imundo
Do que vivo
Com o que velo

A perder de vista
Sou o alarme
Que em vez de tocar
Rabisca
E no lugar do alarde
Faz revista
Como quem arde
Ou queima
No tangido charme
Da conquista

A perder de vista
Sou o adubo
Do terreno
E como cego
Que avista
O aceno
Apanho o medo
E o sereno
Prado fértil
Que sagra
O segredo
O simples pulso
Do folguedo


A perder de vista
Sou o amor
Nu verdejante
Que tanto espero
E logo quero
Otimista
Na hora adiante
E bem quista
Em que esmero
Essa visita
E minha sedução
De amante
Romancista

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Primavera

Talvez agora eu saiba
Entenda o acaso que devore
Minha insistência de criança
Nessa valsa de estações

Talvez agora entenda
O que me faz breve vivenda
Em cada setembro eterno
De mantos e canções

Pois se poetas adoram
E fachos brutos esperam
Quem será de negar
Ou maldizer tais afeições

São moinhos de vento
Transpondo cada tempo
E revivendo cada vôo
Em jardins de ilusões

É a linda vinda dela
Doce e densa primavera
Que abarca o barco a vela
Acusa rasantes gaviões

É a noite em fina espreita
Com o anjo na janela
Catando estrelas vivas
E colorindo rubros corações

São as flores de todos
Encobrindo a mata fresca
E despindo sem pudor
Cheiros de quatro sazões

Agora eu sei enfim
São as primaveras em mim
Que dedicam o seu jasmim
A um calabouço sem porões

Portanto hoje eu entendo
De chuva de risos e humores bons
Com girassóis ao sol estupendo
Nos galhos secos das multidões

É a contente primavera
Que contenta minha espera
Que assola as dores dessa era
E traduz dons em portos de quimera

Os livros

Os livros que li
Me deixaram assim

Horas os penso
Como desejo
Outras como ensejo

Alguns dias os como
E como sorriso os vejo

Só sei que apesar dos apertos
De consciência e de coração
Os livros que já li
Me deixaram assim

Pura cilada

Um pouco lá
Um tanto aqui
Mas sempre assim

Curiosa como sou
E desdenhosa
De onde inda vou

Como deixada
Ou levada

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O falcão

Ao vê-lo planar,
temi.

Senti suas asas
[tão amplas]
cortantes.

Do alto do prédio
as vi rasgando o vento
que zunia em meus ouvidos;

era uma solidão pura.

Ao vê-lo pousar,
enterneci.

Esperei suas asas
[agora retrancas]
abrirem-se para ir.

Do alto do prédio
alçou um vôo que sempre imaginei sentir.

E foi,
[horizontalmente]
paralelo ao crepúsculo,
em direção ao horizonte...

Entre o estar e o ser

O estar sempre brinca de ser
Deita no sofá da nossa sala
Esquenta o juízo
E se faz de casa

Sua confusão é peregrina
Espécie de chuvisco andante
De onde caem pingos vis
Que se acham torrente

Eu gosto sempre de brincar
Mas não de brincar de ser
Ou de fingir estar quando sou

Prefiro preto no branco
Abomino o gris
Aquele “deixo estar”
Sem ficar nem entreter

Pois o jogo ocasionado
Só cria caso
Esvazia a ternura do ser
E o facho do estar

A briga entre o estar e o ser
Esmurra o momento e o sucessivo
Dá fim no contento efêmero
E arruína o eterno

Entre o estar e o ser
Não há sensação ou sentimento
Só cabe sensacionalismo
Coisa que não se sustenta à distância
Ao menos com nomadismo

domingo, 1 de agosto de 2010

Poesia

Nessa metalingüística
Cansante
Vou brindando
E brincando
Com as marcas
Incessantes
Dessa característica

Querer sempre expor
Sentir-me repor
Encarte
E empate
Com o torpor
Disparate
Ao tocar de cada som de tambor

Rima de esplendor
Parece cantiga
Melhor amiga
No amor
E na dor
Pulso meu
Em todo passo que dou

Ela vem cantante
Dançante
Detetive instigante
Abriga as ditas
Benditas
E as palavras ocultas
Em cada semblante

Guia
Barco a vela
Brisa fresca
Sombra
E água fria
Deslumbra arestas
Desvenda fantasias

Meu estandarte
Reparto em vida
Parte completa
Que nasce arte
E já vive repleta
Minha mania concreta
De poesia
Baluarte

De graça

Minha vida é isso
Amar de graça
Alimentar meu vício
Barato
Pura cachaça
E sem me dar quase nada
Às vezes torpor
E noutras, alegria
Você me dá poesia
Você é minha poesia

Você se encaixa
Em minha harmonia
Enche de vermelho
Meu caixa
Sem dúvidas
E só queimando dívidas
É como predador que me caça
Esse amor de graça
Mas é pura poesia
Você me dá poesia

Vivo dessa graça
Imensa alegria
Desse vício que me caça
Sob som de harmonia
Cachaça que queima
E que me condena
Em pura massa
Todo santo dia
A essa vida de poesia
De graça

Esgrima

Utilizo a arte pela arte
Porque a arte já se explica
E me condeno
A essa esgrima
Não sentida
Pelo simples fato
Dela já me fazer parte
E de minha vil arte
Se fazer ato
Desatado
E altear o contato
Seja de canto
Ou de raspão
No furo
Ou na ferida
Sendo a idéia riscada
Ou não
Que permeia
O sangue nas veias
E lacera com precisão
A carne humana
Pela alma habitada

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Casal

Pé de caju
Sombra de dúvidas
Dívidas e mágoas
E sons de vento
Nessa barca
De tranqüilidade
E lamento

É o sol abrindo
Folha caindo
Criança sorrindo
E dita e feita
Continua a busca
Pela vida perfeita
Do choro bem-vindo
Do amor sem idade
Nem momento

Essa terra também é isso
Enguiço e chocolate
Mais do que felicidade
Tem doce de rio
Mar de mangue e sal
Entrada livre e enseada
Sob uma linda estrada
Moças e poças
Telas e louças
Pintadas sem igual
Em clima de cafezal

Houve até saudade
E por miragens
Um sinal
Sinal de que o céu
Só é mais lindo
Nesse ou em qualquer litoral
Com estrelas como véu
E quando vem cobrindo
A esperança de um casal

Obrigada

Pelas lembranças
Pelas esperanças
Pelas esperas
Pelas primaveras
Pelas estações
Pelas estadias
Pelas manias
Pelas manhas
Pelas entranhas
Pelas entradas
Pelas estradas
Pelos estragos
Pelas brigas
Pelas buscas
Pelas perdas
Pelos apertos
Pelos abraços
Pelas despedidas
Pelas partidas
Obrigada
Pelas idas
Pelas vindas
Pelos ainda
Pelas ações
Pelas canções
Pelos cansaços
Pelos espaços
Pelos sumiços
Pelos feitiços
Pelos feitios
Pelos feitos
Pelos objetivos
Pelas objeções
E obrigada
Principalmente
Por essa e outras muitas
Inspirações

sábado, 24 de julho de 2010

Açoite

À noite
Em certas feitas
Me escondo do perigo
Que mora em mim
Esqueço do fim
E abuso do abrigo
Que me endireita:
Seu açoite

Mancha

Mancha sórdida
Não venha
Que os Deuses dos Mares
E todos os frades
A atenha

Que a chuva ácida
Dos nossos céus pálidos
E quase cálidos
Possa alcalinizar seu manto
Neutralizar esse tanto
Fazer descanso
Nesse mundo louco
Que despejou
Todo o seu pouco

Porque do globo
Só sai esboço
No calabouço
De um lobo
Que come sem fome
Que chora sem água
Que vira sem dorso
Que chama sem nome

Terra
Que do chão não vem
Já que pelo desdém
Só enterra
Seu lixo sem vintém
E de cada catação
Só expurga o pinhão
Nem o coxo
Nem o manco
Nem a guerra sem perdão

Desfaça esse traço
E dizime cada traça
Pois esse oceano amplidão
Abençoado e tão parado
Não revolta sem razão
Só vai e volta
Se o homem
Idiota
O faz de vão

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Paixão

A alma saiu;
Despiu o corpo
E foi passear.

O amor,
Corpo esse singelo,
Então se desfaleceu.

Depois,
Outra dela voltou
E cobriu-lhe de ânimo;

Tal alma assentou naquele amor
Que, de novo, ficou vestido
De paixão:

A melhor fantasia de todas!

sábado, 17 de julho de 2010

Conselho

Um amigo me disse
Sem pressa
Pra eu fazer valer
Seguir o palpite
Arriscar uma conversa
Aceitar o convite
Deixar o amor nascer
E que o coração eu abrisse
Bem depressa
Sem medo de sofrer
Ou da aguda paixonite
Pois se, assim, dispersa
Eu não tivesse limite
Poderia, enfim, me perder

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Desapaixonar-se

É sabido exonerar-se
Prescinde aviso prévio
Nos cobra inteiro
Do que fará metade
E tem um triste cheiro
Que só de canto invade

Pode derramar
Ou de pranto encharcar-se
Por motivo de saudade
Mas depois some
Atrás da solidez do ermo
Sem sentido nem nome

É capaz de cair do pé
A caminho de fincar-se
Sem nem bem florir
E o que antes deveras fosse
Agora se espalha em galhos
Soando feito flauta doce

E quando o sempre vira praxe
Mas não é mais domínio
Sobre o breve ou transcendental
Todo ser amado
Criado e vivido sob fascínio
Há de ter o seu final

Já que desapaixonar-se
É um talvez logo cedo
Um barco a vela
Desprovido de remos
E ilhado em lajedo

Já que desapaixonar-se
É num piscar de olhos
De um álibi faz-se pluma
Engana como bruma
E desengana o apaixonar-se

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Prioritário

Se tiver você
Há conflito
Eu vibro e reflito
Mas largo tudo
Mergulho fundo
Sem medo do escuro
Atendo num segundo
E esqueço do mundo

Universo que vira casulo
Manta sem preço
Primavera sem endereço
Salto de ventura infindável
Do fim ao começo
Um jardim interminável
Afeto a que me vinculo
Com todo o apreço

Jogo o relógio fora
Só atendo suas chamadas
E amigo vira inimigo
Vou abatendo fantasias
E meu orgulho comemora
Contentamentos cultivo
Fico apenas contigo
E depois da partida
Ainda deixo você aqui
Um tempo longo comigo
Bem perto do meu umbigo
Dando vaga à saudade
De coração partido

Paraíso

Paraíso é eterno
Não tem tempo
Nem lugar
Cunha ilhas de amar
Não se extingue
Nem se esquece
Tem visita sem avisar

Paraíso é burlar
Seguir à risca os riscos
Dispensar o dia nascer
É se valer sem alugar
Ensaiar falecer
Por o brio a prova
E só o medo perder

Paraíso é viver
Ser presente frente ao vento
Tomar banho de mar atento
Percorrer bossa e choro
Fazer samba no peito
E eternizar entretido
Cada rio de proveito

terça-feira, 13 de julho de 2010

Idéias

Dizem que eles falam pouco
De pessoas
Pois os ricos de mente
Intelectualmente
Falam de idéias.

Teorias vazias
Já que as pessoas
São as próprias idéias
Mesmo as não tidas
As não bem-vindas
Ou as tardias.

Balelas
Já que elas
São as próprias
E talvez as minhas
Ou as velas
Que iluminam
As idéias belas.

Elas só são o impulso
O pulo no pula-pula.

Mas depois vem a inércia.

A inércia de quem cala
E da vela
Já que dela
Apagam-se as chamas
E as idéias
Sem fala.

Já que pessoas
Se apagam
Acesas
Delas e delas;
Das pessoas e das idéias;
Mesmo das boas.

Antes

Não há o que se chorar
Pelo leite não derramado
Já que nem houve deleite
Ou nenhum desprazer
No que foi autuado

Não há que se ecoar
O não dito
Se desde o início
O pássaro deita no vôo
Além do seu vício
Seu medo bendito
De se passar
Como passageiro
Tão leve e simplício

Incrível a sinfonia dos “se”
A quasidade dos “talvez”
Nesse misto de alegria
E breve euforia
Com o raio limítrofe da dor
Entre o bífido torpor
Da lucidez (sensatez)
Com a embriaguez
Desse ou de qualquer louvor (amor)

O bom é se ver o não
Tão de longe, a pairar
E poder fazer do não feito
Um, ainda, sim
Imperfeito
Um proveito
A se a aproximar

O mundo é assim: sesmo
E igual a estar a esmo
É girar
Como uma vida cíclica
Pirar
Há sempre que se sorrir
Do que se por
A chorar
Por um tempo em que
Não se perdeu
Antes mesmo de investir
No que se quer
Ganhar

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sinceramente

Vezes tem-se que limitar uma verdade para não incitar a mentira nos outros...
Vezes tem-se que sustentar uma omissão para que os outros não sejam tão pagãos...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Respirar

Escrever pra mim
É um respirar
É vital
Um processo natural

É já saber o que se deve fazer
É automaticamente inspirar
Encher os pulmões de verbalizar
E exprimir tudo o que vier entreter

Mas é também se conscientizar
Que nem tudo é de se aproveitar
Mas que tudo faz parte
Do que lhe chega
E do que lhe é expirado
Principalmente como arte

Então é importante lembrar
De bem se contemplar
O que é escrito
E bem distribuir
O que lhe é respirado
Seja em um simples bafo quente
Ou no ar condicionado

Amigo

Ele se fez distante
Apesar de bem aconchegado
Em minha mente
E na minha estante

Foi malandro
Deu saudade
E mal quis me ouvir
Saber da vil verdade

As desculpas ditas
Depois de anos
Ressoarem leve
Como um vento breve

Delas nem precisava
Pois o nosso caso
Desculpem-me as outras
É na alma que estava

Sorrateiramente
O tempo urgiu
Me abençoou de novo
E meu amigo ressurgiu

Não é descritível
Pois até o desconhecido
É por mim reconhecido
Se tornando inconfundível

Adoro te redescobrir
Sentir teus estios
Conversar às estrelas
E desabafar meus vazios

Vivo tudo com carinho
Sonho e dou risada contigo
Entendo de pedras no caminho
E te tenho como melhor amigo

Pois a unidade desse amor
Me preenche de satisfação
E mesmo sob um bom vinho
Me livra de qualquer torpor

domingo, 4 de julho de 2010

Um amor não amor

Eu quero um amor
Que não seja amor
Que não faça muitas perguntas
Mas que entenda meus motivos
E minhas respostas

Quero um amor que
Mesmo sem ser amor
Me entretenha
Porque amar sem entreter
É disfarçar
E entreter-se apenas
Pode supor amar

Eu quero um amor
Viajante
Destilante
E simplício
Um homem de festas e riso
De velas e choro

Quero um amor sem sonhos
Só com sonos bons
E amanheceres de sol
Quero mudar
Sem mudar de vida
Nem nada

Quero ser eu mesma
E me descobrir milhares
Mas inteira
Nesse amor
Não amor

Sangue intempestivo

Depois da rebeldia
Adrenalina que me guia
Vem o encanto
O velho sangue
Embebido de alegria

Enquanto as paredes
Se dilatam
Deixo correr a fantasia
O romance, a serventia
Brasa que aquece a palha
E ensurdece a sinfonia

Composição na veia
E febre que incendeia
É um grito leve
De reação em cadeia
Liberação imersa numa teia
Que transforma
Tudo que não deve
Em imensa agonia
Tempestade que ladeia

sábado, 3 de julho de 2010

Cimento

Meu cimento ideológico
É meu sentimento
Algo que me envolve
Me comove
E me molda sem solda
Que eu movo como sopa
Que eu trago solta
No meu caldo de vida
Na minha comida
O que me alimenta
E como viga me sustenta
De um cimento
Meio endurecido
Meio amolecido
Pelo mar de concretos
Que me intensifica
E me umidifica
Areento
E enfurecido

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ateu

Assim como um amor
Quero escrever
O que entretenha
Entretanto
Me convenha (!)
Estou esperando a chuva passar
E aguardo que a inspiração venha
Me visitar
Mas, Deus a tenha (!)
Pois não preciso de rito
Nem de senha
Falo tudo que quero
Ainda que já o tenha dito
E tenho tudo que preciso
Esse meu sentir maldito
Que me cerca
E liberta
No divino canto ateu
E na bendita lenha
Da escrita
Que me atenha

Pessoas

As pessoas se escondem
Seletas e em silêncio
Abominam suas próprias presenças
Têm medo de não saber de si
Medo de não ter aonde ir
De onde vêm ou para onde vão

As pessoas se enterram em vitrines
Se afogam em telas
E se esquecem
Elas vivem globalizadamente
Na solidão
Querem a todo custo estancar
O que as faz sangrar

As pessoas procuram secar tudo
O que as faz chorar, gozar, suar e aguar
Parecem que morrem
Antes mesmo de se sentir
Vivas
Antes mesmo de se encontrar

domingo, 27 de junho de 2010

Viajar

Sem pedir licença
Eu pedi espaço
Me fiz raio de vento
Me perdi no tempo
E viajei

Agora busco atenta
Nas vagas lembranças
Do que me venta
Estar de volta
E me por a postos
Do que restei

Pois se antes fui corpo
E nesse vasto mar me atirei
Num só balbuciar
Hoje me vejo alma
Quase morto
Sem nem um porto
Pra onde eu mesmo visitei

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Interior

Nem sei mais o que existe em mim
Sou algo que ferve por si
Algo que se expande sem medo
E posso ser matas extensas cheirando a chuva

Visto simplicidades que engrandecem uma rotina fria
Lembranças leves que enternecem lágrimas vis
E tenho sonhos cintilantes e musicados

Talvez eu prefira essa imprecisão
Talvez eu caiba mesmo só nessa minha imensidão
Nesse interior de intenso existir
Um interior sedento de exterior

domingo, 20 de junho de 2010

Voar

Incrível sensação
Ver girar o mundo
E estar parado
Ausentar-se de si
Sentir-se desligado

É andar de carro
Com o vidro escancarado
E mesmo de ar condicionado
Sentir o calor do vento
Me deixar emocionado

É longe dos anseios ficar
Relva em todo plano notar
Estrelas fazer brilhar
E dizer sem rodeios
O que nem se precisa falar

Querer tudo decidir
Decifrar enigmas
Remediar dores
E inventar saídas
Visitando amores

Saber correr forte
Transpor as luzes da sorte
Não cansar de ir ou voltar
É navegar no mar do tempo
Sem ao menos sair do lugar

Mergulhar na cachoeira
Sentir o peso da chuva
Indescritível trajeto
Respirar o afeto do efeito
De planar de peito aberto

Fechar os olhos
Pensar em você
Recuperar boas memórias
Sorrir sem sentir
E inspirar novas histórias

Voar é estar livre
Ver e bem enxergar
Pensar sem esforço
Sentir sem remorso
E escrever sem esboço

sábado, 19 de junho de 2010

Engana

Se engana
Quem me chama
De lua
E dessa fama
Infame
Se engane
E assim
Me conclua

Noite ou dia
Sou cigana
Serventia
Da própria chama
Verbo que inflama
Onda que irradia
Em versos
E ironia

Engana é
O de jeito manso
E peito expanso
Que o vôo plana
Da ave serrana
E desdobra a busca
Que logo atenua
A eterna flama
Mundana

Se engana
Quem se deixa
E quem fecha
A ventana
Escondido
Nessa sombra
Soberana
De cabana

Sem engano
Prossigo sacana
Peregrina pagã
Mas bem vestida
E insana
Enxergando a saída
Da vida
Em um plano
Muito mais que profano

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Partida

Minha partida
Foi como a neblina
Na janela ao lado
E sua ausência
Foi a saída
De qualquer chegada
Sem buzina
Recado
Nem nada

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Amores catados

Sobre amores catados
Nada a declarar
Só quero lembrar
Que as partes catadas
Enfim
Não me fazem falta
Prefiro assim
Ser parte múltipla
Untada
E desmembrada
Mas desmemoriada
De um catar sem fim
Que perdida
Ou largada
De mim

Pé de longe

Distante
Em um perto longe

Naquele dia
A noite estava fria
Sem pé e vazia

Não havia
Nem um pé de sol
Nem um pé d’água
Nem um pé de pinga

Não havia
Nenhum pé de chumbo
Ou pé de sonho
Meus próprios pés estavam atados
E desengatados

Não havia
Nenhum pé de sombra
Nem um pé de manga
Nem um pé de gente
Até que deveras sem pé
Me veio um pé de vento

A muitos pés
Esse pé de vento
Pé de longe
Que veio cá dentro
Apesar dos pés e ares
E sem pé nem cabeça
Te trouxe a meu pensamento

terça-feira, 15 de junho de 2010

Carma

Carma
Para mim
É a resiliência
Do destino

Arte

Num jogo de idéias
Eu penso em arte
Como quem pensa na vida
Pois se em mim
A arte se reparte
E dela eu faço parte
É como se para viver
Eu tivesse que agir à parte
Revivendo e recauchutando
Tudo que me faz perecer
Pois seja noite ou dia
Na tristeza ou na alegria
Essa arte que me tenta
E que me vem reinventando
Só é viva porque a vivo cantando
E só é viva ao entreter
Cada pedaço meu (mesmo morto)
Que deixo a escrever

domingo, 13 de junho de 2010

Bruta

Há tempos duvidavam
Pensavam que só os bobos amavam
E eu era um deles

Depois perceberam que não há caminho
O amor cumprimenta sem nem se saber
Mesmo quando não se está sozinho

Às vezes ele tem cara de inimigo
Em certas ocasiões se apresenta por acidente
Noutras, aparece como um bom castigo

Desculpem-me se sou assim, bruta
Não me há conjuntura mais viva
Todavia a brutalidade não é absoluta

Os brutos também amam
Eles são os mais românticos
E eu sou um deles

Amor é orgulho que lapida o ser
Sentimento em eterna luta com a razão
Faz-me bruta, mas com olhar de imensidão

sábado, 12 de junho de 2010

Escrever

Ao escrever roubo palavras como uma ladra sem culpa.

Roubo as palavras do amigo, roubo-as do bico do passarinho. E minhas palavras se tornam vento, quando ele grita uivante e eu roubo suas palavras. Roubo as palavras dos cheiros, de outros versos e de cicatrizes.

Ao escrever, eu roubo as palavras das cruzes, palavras das memórias e palavras inventadas. Eu roubo a combinação de letras que melhor compor meu estio; e roubo também certas palavras, cheias de vazio.

Roubo palavras de guri e de sábio; do contingente flácido das minhas asneiras.

Eu roubo palavras, mas as planto. Não sei que flor dará, nem se um dia brotarão frutos; só sei que dos roubos eu crio um jardim. E esse jardim não é meu; é do mundo.

Eu cuido, rego de novas ou velhas palavras, paridas, trazidas ou simplesmente roubadas, e vou podando suas sílabas-folhas. E as palavras que roubo, quando no papel, são mais um retrato da unidade desse universo.

As palavras plantadas em grafite ou tinta estão contidas na própria planta, parte transcrita de vida; parte partida de palavras deixadas ou roubadas numa escrita.