Ao escrever roubo palavras como uma ladra sem culpa.
Roubo as palavras do amigo, roubo-as do bico do passarinho. E minhas palavras se tornam vento, quando ele grita uivante e eu roubo suas palavras. Roubo as palavras dos cheiros, de outros versos e de cicatrizes.
Ao escrever, eu roubo as palavras das cruzes, palavras das memórias e palavras inventadas. Eu roubo a combinação de letras que melhor compor meu estio; e roubo também certas palavras, cheias de vazio.
Roubo palavras de guri e de sábio; do contingente flácido das minhas asneiras.
Eu roubo palavras, mas as planto. Não sei que flor dará, nem se um dia brotarão frutos; só sei que dos roubos eu crio um jardim. E esse jardim não é meu; é do mundo.
Eu cuido, rego de novas ou velhas palavras, paridas, trazidas ou simplesmente roubadas, e vou podando suas sílabas-folhas. E as palavras que roubo, quando no papel, são mais um retrato da unidade desse universo.
As palavras plantadas em grafite ou tinta estão contidas na própria planta, parte transcrita de vida; parte partida de palavras deixadas ou roubadas numa escrita.
lindeza. virei aqui todos os dias, procurar essas tantas palavras roubadas!
ResponderExcluirMas e aquela coisa de que "toda palavra deixa de ser sua quando é lida por outra pessoa"?
ResponderExcluirEntão o que você rouba do bico do passarinha, acaba sendo seu por direito. ;)
beijo,
Mano
O melhor das palavras é que elas representam dizeres. O dizer é, necessariamente, produto do querer, mesmo que seja a lídima expressão do não querer. Por isto é tão importante cultivar palavras e fazer delas o caminho para a construção e para a realização das vontades.
ResponderExcluirEstamos Juntos!
Luís