quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Amores

Houve amores. E uns sei que sempre terei.
Houve amores desérticos; calados e funestos. Montando daquelas paisagens ásperas e bem calorosas, vertiginosas.
Houve amores deitados. Preguiçosos, que só se levantavam debaixo de muito grito; pois nem o sol acordava seus sensos.
Houve amores padrão; bem clichês e nítidos. Encharcados do oportunismo que nos invade a cada bela tarde chuvosa.
Houve amores cruéis. Amores bandidos e ladrões, assim como eu, a roubar palavras. Que me levaram preciosos bens, mas que, como manda o dito, nunca puderam me levar a sabedoria da alma.
Sim, houve amores proibidos; lançados pela mão de um caçador mor, e não do Cupido. E esses quase foram os melhores, se seus mistérios não fossem tão efêmeros, e se a verdade um dia não remediasse tão divinamente o antídoto das suas flechadas.
Houve amores açucarados. Que me deixavam doente, tonta, cega. Esses me davam sempre sede; mais sede de amor, sede de seus males e de mares salgados antes nunca navegados.
Houve amores esquecidos; aqueles que eu mais devoto. Que, como já disse, se deslembra das cobranças e só se faz de boas lembranças. Muito talvez meus preferidos, se, portanto, não estivessem mesmo esquecidos.
Houve sempre amores derradeiros, que por assim ficar, vezes voltavam a me rogar um bom emprego. Mas quais seriam então os primeiros? Nunca isso deixei importar. Dependendo da safra e da demanda, os buscava inteiros, porém amadurecidos. Desenvolvia as arestas mais brutas e os sentava no carvalho. E só eu mesma sabia o motivo e como melhor despejá-los em suas garrafas. Pior! A adega, o local, a temperatura de abrigo... Que perigo! Não houve época que os fermentasse sem meu próprio tempo e paladar exaustivo que os queixasse como eternos persistentes. Evaporaram-se de torpores todos, os tais amores.
Fora esses e outros tantos tontos, que se chamaram ou não e que também não necessariamente foram amor, há um tipo que nunca consegui conhecer. Toda vez que pensava ser apresentada ou inclusive a ele apresentar-me, me ocorria o engano. E pra acontecer talvez ainda leve ano... Ou talvez nem tanto!
Só sei que inda não sei se vai haver esse próximo; o desconhecido. Já me embalei em tantos cantos que cansei de encantamentos. Horas penso ser bom, por criar cada vez mais afeto por mim mesma; por me questionar barulhos que, com um amor, não fosse capaz de escutar. Mas depois de um vento acalentado de paz... Já nem sei mais! Penso que descobrir um amor, seja ele achado, seja roubado, seja insípido, repetido ou inventado, é sempre entreter-se. E é isso o que mais amo!
Amo a trama da noite com o amanhecer. Esse caso que se constrói com poucas estrelas e muita imensidão. Essa partida que se tem com a chegada ou com a ida de quem se quer. Amo a briga do homem com a mulher! O infinito que se encaixa no vazio. Ser sempre ambíguo, complementar, antônimo, mas sempre dois a juntar, ou melhor, apenas um já untado pelo amor e seu bem amado.
Amo o fato e o estado que me faz esfacelar, dividir e multiplicar amores; apesar de, em certos momentos, tentar alcançá-los pra re(vi)vê-los, e não sê-los; como o lume do fogo num vendaval arruinado, prestes a se fazer cansante e não mais ardente; apenas apagado.
Amo ter havido amores, apesar de igualmente (há)vê-los. Isso porque entendo o valor de um amor; e o de cada um deles. Só me pergunto, por fim, até que ponto os serei, se o que não encontro em mim posso ter neles? E até que outro ponto seguirei, se a minha sede de haver envolve sempre o mais para entreter-me e a virtude eterna de nunca me bastar?
Prefiro olvidar, me calar e bem fal(h)ar em novos ou velhos amores...

3 comentários:

  1. Ah... os amores. O que seria de nós sem essa pluralidade singular em nossas vidas?

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  2. Felizes aqueles que amam, aqueles que sabem amar, que não tem medo de amar, de se doar . . .
    Te amo, minha filha!

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  3. Pois é. Dentre tantos poréns, não existe nada melhor que, mesmo no anonimato, amar...
    Também te amo!

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